Dumbo é o pior filme animado à mão da Disney

Há quem atribua esse título ao "Caldeirão Mágico", mas eu vos digo que esse, ainda, é aceitável em comparação a "Dumbo", filme que, de certa forma, salvou a Disney de uma falência após o fracasso de "Pinóquio" e "Fantasia". Mas não é só porque foi feito com poucos recursos que devemos aclamar um trabalho ruim.

Não vou entrar no mérito das músicas, que são pouco memoráveis (a maioria melodramáticas), mas sim focar no que realmente faz o filme ser horrível, que é o roteiro (ou a falta dele), já que ele não tem nenhuma premissa.

As únicas canções que eu gostei foram a do trem (Casey Jr.) e a dos corvos (Ver um Elefante Voar), pois parecem com músicas da Disney, mas de resto...

A história começa com um bando de cegonhas entregando bebês aos animais em cativeiro do circo durante a viagem num trem falante (que não influencia em nada a história e tampouco interage com os outros personagens). Geralmente, se trata de uma metáfora à cópula, mas nesse filme em específico percebemos que é literal porque uma das mães, a senhora Jumbo, não possui um parceiro — provavelmente porque a Disney queria economizar no orçamento, mas o dinheiro que gastaram no trem poderia ter sido investido nesse elefante.

Uma das coisas que mais me irritaram nesse filme é o enrolo de cenas que deveriam ser sucintas só para dar uma hora de duração (e 4 minutos). Com o conteúdo que Dumbo oferece (isto é, sem clipes musicais), era pra ter meia hora de duração no máximo. Na verdade, lendo a seção de enredo da Wikipedia você consegue absorver o "filme" inteiro em 3 minutos sem precisar assistir. Isso acontece desde o "ritual de maternidade" da cegonha (que é constrangedor e desnecessário) até a cena dos alucinógenos (que, ao contrário da cegonha, eu ainda perdoo).

O nome do bebê é Jumbo Jr., mas por ter orelhas grandes e, com elas, ser atrapalhado, foi considerado pelos outros elefantes um "idiota" ("dumb"), o que lhe rendeu o apelido de "Dumbo" — trocadilho utilizado até, acredite se quiser, pelo seu próprio amigo rato, mesmo que este não tenha tido a intenção.

Deu pra perceber que Dumbo é uma espécie de precursor das obras motivacionais, como "Naruto", "Black Clover" ou até "My Hero Academia" (que, ironicamente, serviu de inspiração para "Encanto").

Chegando no destino, entra outra interminável cena, que é a dos elefantes ajudando os escravizados a erguerem o circo. Foi uma cena desnecessariamente longa, que ocultava a face dos trabalhadores, fazendo com que parecessem monstros (recurso também utilizado no Casey Jr., cuja face era escura, e com os palhaços, que eram mostrados como silhuetas nas cortinas, talvez para poupar recursos).

Depois daquela cena de briga, defendendo seu filho, a elefante-mãe é trancafiada. Depois daquilo os elefantes passam a ostracizar Dumbo, que passa a ter como amigo um rato chamado Timothy, que tenta ajudar Dumbo a se tornar uma estrela.

Depois da cena dos palhaços, Dumbo fica triste e quer ver a mãe dele, então eles vão lá e, quando voltam, Dumbo acaba soluçando e bebe o primeiro balde d'água que vê pela frente, que, para a infelicidade dos dois, estava contaminado com cachaça.

Foi uma das cenas mais desnecessárias do filme, que durou mais de cinco minutos e mostrou tudo, menos a droga do Dumbo voando — que era o objetivo principal dessa cena.

Eles, misteriosamente, acordam em cima de uma árvore, e é aqui que o filme (deveria) finalmente começa(r), porque até agora nós só vimos um elefante sofrendo bullying por quarenta minutos. E é aqui que chega a famosa cena dos corvos que ajudam o Dumbo a voar, por mais que achem a ideia ridícula — fisicamente falando, impossível.

Na cena dos escravos, ainda estava tudo bem, já que era, de fato, uma realidade da época que eles eram postos para trabalhar, mas quando os corvos apareceram, ficou claro para mim que o filme incentivava, ainda que de maneira sutil, o preconceito racial.

O corvo principal foi personificado por um ator branco que imitava o dialeto sul-africano. Além disso, seu nome era "Jim Crow", uma espécie de insulto racista baseado num personagem homônimo, que ocasionou, posteriormente, a mudança para Dandy Crow — detalhe para o criador do racista Jim Crow (personagem que inspirou o nome do corvo), Thomas D. Rice, que era apelidado de "Daddy".

Dito isso, o final do filme é basicamente o Dumbo voando pela segunda vez e acaba por aí. É isso mesmo que você leu: a habilidade de voar do Dumbo serviu meramente para libertar a mãe dele, uma bela duma conveniência de roteiro.

Resumindo: o Dumbo já nasce sendo bulinado pelos outros, o que leva a sua mãe a ser presa por bater nos valentões. Aí ele conhece um rato que o ajuda a fazer shows, até que eles, acidentalmente, se embebedam e acordam numa árvore, onde o Dumbo conhece corvos que o ensinam a voar e o filme acaba.

Com o tempo de tela que tiveram, poderiam ter cortado as enrolações e continuado do ponto que o Dumbo fez sucesso (a trama poderia ser sobre o Dumbo, já crescido e conhecido no mundo todo, libertar sua mãe e fugir do circo).

Eu só perdoo isso parcialmente por se tratar de um curta-metragem, então a intenção não era criar uma trama, mas ainda assim não é desculpa para a criação de algo meia boca. Felizmente, apareceu o Tim Burton e corrigiu essa falha, então não preciso mais me estender: não perca tempo assistindo à versão antiga se podes ver a nova, pois esse Dumbo antigo serve meramente como um ícone.

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